Turi Collura

Multitonalidade: sistema por terças menores – Parte 2

Hoje vamos dar continuidade aos estudos sobre a Multitonalidade e o sistema por terças menores (clique aqui para ler a PRIMEIRA PARTE do estudo).

Duas direções no sistema por terças menores

Podemos percorrer o círculo em sentido anti-horário, gerando uma sequência de centros tonais que sobem por terças menores:

Podemos, também, percorrer o círculo em sentido horário, gerando uma sequência de centros tonais que descem por terças menores:

BELA BARTÓK E O SISTEMA DOS TRÊS EIXOS

Essa maneira de ver as coisas, de organizar o material harmônico do sistema tonal, tem vários desdobramentos. Vamos apontar um, por exemplo. O compositor Bela Bartók utilizou o que é chamado de sistema dos 3 eixos. Assim como temos 4 acordes de Tônica, temos, também, 4 acordes de Dominante e 4 de Subdominante, como mostra a figura a seguir.
Bela Bartok e o sistema dos três eixos

Podemos, por exemplo, trocar uma dominante pela outra. Obtemos, assim, diferentes possibilidades de cadências V-I e II-V-I, como mostra a figura abaixo:

CENTROS TONAIS EM MENOR

O que vimos até agora, pode ser aplicado a centros tonais menores. É possível termos sequências como:

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MULTITONALIDADE

Em uma harmonia muito cromática, quando os centros tonais se sucedem rapidamente, as regiões de ambiguidade tonal se estendem, às vezes, por largos trechos. A harmonia muito cromática se chama, com frequência, hipercromatismo (=cromatismo extremo). O hipercromatismo provoca uma instabilidade tonal que podemos entender como multitonalidade (=tonalidade flutuante, flutuação tonal).

Do ponto de vista histórico, a multitonalidade foi introduzida no fim do século XIX por compositores que buscavam expandir o sistema tonal maior – menor. O compositor Richard Wagner é um ilustre representante desta tendência.

No jazz, a multitonalidade já está presente no be-bop sob a forma de sequências de acordes x7 por quintas descendentes (dominantes estendidas) ou por semitons. Ela se desenvolveu, também, sob outras formas nos anos 60.

Na música da tradição européia, assim como no jazz, a multitonalidade conduziu, de um lado, a uma reação para uma “simplificação” da harmonia através do modalismo, e de outro, a uma busca de hipercromatismos em direção à atonalidade, quer dizer, à dissolução de um centro tonal principal.

O modalismo foi bastante praticado pelos compositores franceses e russos, enquanto o hipercromatismo o foi pelos alemães. No jazz, foram, geralmente, os mesmos músicos que exploraram todas estas diferentes maneiras de desenvolver o sistema tonal maior – menor.

Na música brasileira, compositores como Ivan Lins, Toninho Horta, Edu Lobo entre outros, exploram a expansão harmônica seguindo esses caminhos, com a liberdade que a emancipação moderna lhes confere.

CONCLUÍNDO

O chamado sistema dos três eixos utilizado por compositores da música erudita do final do século XIX percorre mais de um século e se apresenta hoje, mais atual do que nunca, como um ótimo recurso a ser explorado pelos compositores em busca de harmonias mais complexas. Em 1960, o saxofonista John Coltrane utilizou um sistema multitonal fundamentado em um raciocínio parecido ao que apresentamos aqui, para injetar, no jazz, novos caminhos harmônicos. Falaremos disso em outra publicação!

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