A primeira tentativa de teorização da harmonia se refere ao, assim chamado, baixo numerado (ou cifrado, que era a notação do baixo contínuo feita colocando números e alterações que indicavam a formação do acorde a ser realizado). Neste sistema, o ponto de partida é a nota mais grave, e a numeração serve para indicar os intervalos que, sobrepostos ao baixo, formam o acorde. Essa “teoria” indica, na verdade, somente o aspecto quantitativo, a estrutura intervalar do acorde em relação ao som do baixo. A “teoria” não explica o significado de cada nota em relação a um acorde, e não explica nada sobre o acorde considerado como tal.
Na verdade, não se trata de uma verdadeira “teoria da harmonia”, já que não considera a sucessão e o encadeamento entre os acordes.
O conceito de baixo contínuo indica três aspectos:
a) uma técnica compositiva;
b) uma praxe executiva;
c) uma teoria. Nesse último caso, “estudar o baixo contínuo” significa, para um estudante da época de Bach, estudar a harmonia e, portanto, aprender as estruturas compositivas para a própria atividade criativa.
Retrato de Jean Philippe Rameau
O fundador da moderna ciência da harmonia é o francês Jean-Philippe Rameau. No seu Traité de l’harmonie réduite à sés príncipes naturels, de 1722, ele introduz a idéia de uma Tonart, definida pela sucessão dos acordes de “dominante”, de “subdominante” e de “tônica”. Podemos traduzir o conceito de Tonart como Tonalidade, composta pela somatória dos acordes que participam de sua constituição.
Só que para Rameau, Subdominante e Dominante não estão vinculados ao IV e V graus dos acordes da escala, mas sim a uma tipologia de acorde. A idéia de Rameau é que os acordes de sétima (por exemplo ré-fá-lá-dó) constituem acordes de “dominante”; acordes compostos por uma tríade mais uma sexta adjunta (sixte ajoutée) constituem os acordes de “sousdominante”.
Somente a tônica leva a um acorde perfeito, ou natural; a esse se acrescenta a sétima para obter as dominantes, e a sexta maior para obter as subdomi5 nantes. (Jean-Philippe Rameau).
Dahlhaus explica que:
Dominante e subdominante são, para Rameau, formas acordais, não graus ou funções. E a tese que uma Tonart seja composta através de tonica, dominante e subdominante significa, no sistema de Rameau, que os acordes, para s e constituírem em uma progressão, devem formar um encadeamento de dis sonâncias que termina em uma consonância, o “accord parfait” da “note tonique.(6)
A grande revolução desse período foi a idéia que um acorde constitui, por si mesmo, uma “entidade dada”, e não simplesmente uma combinação de intervalos resultante do encontro das linhas melódicas. O acorde como “entidade”, então, tem uma sua função dentro de um determinado contexto.
Para Rameau, tanto a sixte ajoutée quanto a sétima (que adicionada a uma tríade, compõe uma tétrade) são dissonâncias. O seu sistema teórico é caracterizado pela motivação de progressões de acordes através das dissonâncias.
A teoria de Rameau oferece muitas outras considerações interessantes, como, por exemplo, o fato dele contribuir grandemente para que se fixasse a idéia que um acorde e suas inversões contêm a mesma fundamental. Antigamente, o acorde de terça e sexta era considerado um acorde composto por três notas independente da primeira inversão. Bach começou a utilizar o acorde de terça e sexta como inversão do acorde, com um baixo diferente da sua fundamental. Mas será necessário chegar à época clássica para que se tenha uma univocidade de interpretação e de utilização desse acorde –a de acorde invertido. Rameau coloca o conceito de “Basse Fondamentale”, ou seja “Baixo Fundamental”, com o qual indica o “baixo real” de um acorde invertido.
Da teoria de Rameau nascem duas linhas diferentes, que constituem as teorias que tratam de Função harmônica, ou função tonal, no sentido moderno:
1) a “Teoria dos Graus”;
2) a “Teoria Funcionalista” de Hugo Riemann.
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